Por Sandro Moser
Ao responder sobre como seria o “teatro à curitibana” que ela e colegas da mostra homônima vão apresentar no Festival de Curitiba a partir desta terça-feira (2), a atriz Guta Stresser soltou o verbo contra o que chamou de “aburguesamento” da profissão. “O nosso é o teatro possível. No limite entre o amador e o profissional, mas com gente de teatro velha de guerra e que não usa DRT (o registro profissional dos atores) comprada”, disse.
“Podemos não ter condições para ter um advogado ou um contador, pois para ser ator hoje no Brasil, você precisa ter wi-fi bom smartphone e, se possível, uma boa dermatologista, um dentista incrível e estar com as unhas feitas para aparecer na revista ou sei lá onde. Mas é como na vida ou a gente encara ou joga a toalha, pois o lugar da atriz e do autor é em cena”, completou a atriz.
Guta está em cena na peça “Os Analfabetos”, um dos quatro espetáculos da Mostra À Curitiba da companhia que reúne talentos locais de terça (2) a domingo (7) no miniauditório do Guaíra. Entre as peças há material inédito como “Cidades Mortas”, uma adaptação de um conto de Monteiro Lobato adaptado e dirigido por Mauro Zanatta, de volta ao Festival depois de alguns anos.
“Venho fuçando neste conto sobre um cidadão encontra um pacote de dinheiro e a partir dali ele começa a viver se torna malquisto. Assim chegamos a um debate sobre honestidade, um valor esquecido, neste lugar chamado Brasil que era uma mata maravilhosa que começou a perder o que tinha com um aporte de caravelas há 500 anos”.
Outra estreia é “As Santas”, uma adaptação do clássico “As Criadas” de Jean Genet, com a nova tradução de Sílvia Chamecki. A peça tem no palco os atores Danilo e Diego Avelleda, pai e filho, num texto que o pai montou em Curitiba em 1967. Há ainda “Estórias de Muitas Amores”, uma peça que o autor Domingos Oliveira deu de presente a Adriano Petermann, um dos fundadores da companhia, que também vai ministrar uma oficina e comandar um debate sobre a produção de teatro em grupo.
“A busca dessa dignidade para produção de teatro faz parte da nossa pesquisa de linguagem. Queremos mostrar ao mercado que a pesquisa e o laboratório também existem e é isso que vai salvar o teatro brasileiro”, disse Petermann.