Adaptação de clássico do francês Molière tem duas sessões na Mostra Lucia Camargo: dias 4 e 5 de abril, às 20h30

 

Companhia Teatro Esplendor. Crédito: Annelize Tozetto.

“É um espetáculo que fala de questões importantes, como o ressurgimento do fascismo no mundo, o fundamentalismo religioso e essa nefasta união entre Igreja e Estado, que a gente tem visto hoje em dia”.

Foi assim que o diretor Bruce Gomlevsky definiu, na manhã desta segunda-feira, durante coletiva de imprensa na Sala Jô Soares, a peça “Um Tartufo”, em cartaz na Mostra Lucia Camargo do Festival de Curitiba.

O espetáculo é uma adaptação da clássica comédia do francês Molière. O enredo fala de um trambiqueiro profissional que usa a religião para se infiltrar em uma família, instalar o caos e saquear qualquer coisa em que puder colocar as mãos.

A montagem dos cariocas da Companhia Teatro Esplendor, no entanto, não tem uma única linha de texto falado. “Foi um processo de criação muito rico. O texto está no corpo dos atores, na estrutura de ações físicas realizadas por eles”, explicou. “É um trabalho muito inspirado no cinema mudo, que era bastante teatral. ‘Nosfetaru’ e ‘O Gabinete do Dr. Caligari’ foram referências importantes.”

Em nenhum momento, porém, a escassez verbal prejudica a compreensão do que acontece em cena. “Essa foi uma das nossas preocupações. Embora a peça tenha uma classificação indicativa, fiz questão de que a linha de ações pudesse ser entendida por uma criança de dez anos”, garante o diretor. “Se alguém que convive com o teatro for assistir, vai entender. E se você pegar o pipoqueiro e colocar na plateia, ele também vai entender. Não tem nada hermético.”

“Um Tartufo” estreou em 2018, depois de nove meses de ensaios – a média da companhia, antes, eram de dois ou três meses. Tudo feito “na raça”.

A Companhia Teatro Esplendor chegou a vencer um edital da prefeitura do Rio de Janeiro, mas nunca viu a cor do dinheiro. “Durante todo esse período, ninguém recebeu nada. Os atores são heróis. Reuni todo mundo e fiz esta proposta indecente: se eles topavam estudar esse texto, estudar esses personagens, e tudo sem prazo, sem receber um tostão.”

Sem patrocínio nenhum, o diretor teve que tirar dinheiro do próprio bolso para bancar o básico da montagem. Por isso, cenário e os figurinos foram reciclados de espetáculos anteriores.

Mesmo assim, “Um Tartufo” foi indicado a três prêmios Shell: Inovação, Figurino e Iluminação. “É o espetáculo mais preciso que eu já criei. Funciona como um relógio suíço.”

Fora o desafio financeiro, “Um Tartufo” enfrentou outros obstáculos em sua jornada. Quando estava prestes a iniciar sua segunda temporada, o elenco foi praticamente expulso do local em que se apresentava, um centro cultural do Rio de Janeiro. Para Bruce, o contratempo teve muito a ver com o conteúdo da história.

“Hoje você não precisa mais colocar tanques na rua pra instalar o autoritarismo. Basta tirar o dinheiro da cultura, da educação, da pesquisa. No mundo todo, a democracia está sendo corroída por dentro”, analisa. “E o Brasil está cheio de tartufos, infelizmente. Faz 500 anos que isso acontece, aliás.”

 

Serviço:
“Um Tartufo”
Mostra Lucia CamargoFestival de Curitiba
Data e Horário: 4 e 5 de abril às 20h30.
Local: Guairinha (Rua XV de Novembro, 971 – Centro)
Classificação: 14
Duração: 96′
Ingressos: www.festivaldecuritiba.com.br e no Shopping Mueller (Piso L3).
Valores: R$ 80 e R$ 40 (meia)

Por Sandoval Matheus – Agência de Notícias do Festival de Curitiba.

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