Peça com elenco indígena terá sessões no Festival de Curitiba nos dias 28 e 29, às 20h30, no Sesc da Esquina.

Apesar de se basear em uma obra que nas livrarias costuma ocupar a prateleira da literatura infantojuvenil, a peça Karaíba, em cartaz na Mostra Lucia Camargo do Festival de Curitiba, não é um espetáculo ingênuo. Foi o que garantiram os integrantes do elenco na manhã deste segunda-feira (27), durante entrevista coletiva na Sala Jô Soares.

“É um espetáculo para todas as idades. Nós falamos de morte, porque a morte existe e é preciso falar dela. No entanto, nosso principal objetivo com Karaíba é homenagear a vida”, disse a atriz Jéssica Meireles. “Nós existimos, estamos vivos e vamos continuar aqui.”

A peça terá duas sessões no Festival de Curitiba, nos dias 28 e 29 de março, às 20h30 no Teatro do Sesc da Esquina. Ainda há ingressos disponíveis para as duas sessões, mas não muitos. Todo o elenco de Karaíba é composto por indígenas, assim como a maioria de sua equipe técnica: 17 dos 27 profissionais.

O enredo da peça se passa nos dias anteriores à chegada dos portugueses ao Brasil. Na história, um grande sábio, conhecido como Karaíba, tem um sonho premonitório. Nele, a terra em que vive será invadida por grandes monstros que destruirão tudo e todos. Os monstros são, é claro, as caravelas dos conquistadores.

A partir daí, três aldeias, de três povos diferentes, precisam decidir como enfrentar esse inimigo. Antes, porém, travarão uma luta entre elas mesmas, porque cada uma interpreta a profecia de uma forma diferente.

“É um espetáculo que fala muito de morte, muito de luto, muito de guerra, mas não é uma coisa sofrida”, disse o diretor Rafael Bacelar, um dos poucos profissionais da montagem que não descende de nossos povos originários. “Eu mesmo, durante os ensaios, saía todo dia me sentindo alimentado por essa coisa ancestral. É impossível sair ileso de Karaíba”, garante ele.

Na coletiva, os artistas ainda destacaram a importância da peça como forma de representatividade. “Na minha infância, eu queria muito ter podido assistir a um indígena em cima do palco, pra me reconhecer nele, pra me sentir capaz. Faltava essa referência”, lamenta o ator Danilo Canindé. “É preciso falar com as crianças agora, pra não precisar falar com os adultos depois”, diz Ludimila D’Angelis, outra atriz que compõe o elenco.

Um encontro às lágrimas

Na noite de domingo, a equipe de Karaíba foi surpreendida ao ir assistir à peça “Movimentos Sobre a Cidade”, no Teatro Guaíra. Isso porque viram em cima do palco, como eles, a atriz Noe Carvalho, também indígena. “Depois a gente se abraçou e chorou”, contou Jéssica Meireles. “A Noe disse que foi a primeira vez que indígenas foram ver ela atuar. Também foi emocionante pra gente. Eu achei que vinha aqui pra ser vista, e de repente eu me vi.”

SERVIÇO
Karaíba
Data e Horário: 28 e 29 de abril, às 20h30
Local: Teatro Sesc da Esquina.
Valores: R$ 80 e R$ 40 (meia)
Este espetáculo conta com interprete de libras.

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