De 25 de março a 7 de abril de 2024

2024 32º Edição

Talvez você só tenha uma oportunidade de ver Beto Bruel dirigindo uma peça de teatro. E é nesta edição do Festival de Curitiba, com “Ovos Não Têm Janela”, um texto inédito de Manoel Carlos Karam.
Ao menos, foi o que Bruel deu a entender na manhã desta sexta-feira, 31, durante entrevista coletiva na Sala Jô Soares, no Hotel Mabu. “Quando me convidaram pra dirigir, pensei: eu, será? Foi uma estranheza”, conta. “Acho que é minha primeira experiência e última como diretor. A dedicação é muita intensa”, brinca ele.
Quem trabalha com Bruel concorda que ele não brinca em serviço. No primeiro dia de encontro com a equipe, já queria fazer as marcações da peça. Conforme a coisa foi evoluindo, passou a gravar os ensaios e enviar para os atores, pra que todo mundo pudesse avaliar os respectivos desempenhos. “Acho que não tem outro diretor que faz isso.”
Iluminador consagrado, antes de assumir o comando de um espetáculo, Beto Bruel trabalhou com mais de cem diretores, em cerca de 700 peças. Mesmo assim, agora fica ansioso. “É bem mais fácil fazer luz”, diz.
Amigo de Manoel Carlos Karam, falecido em 2007, Bruel tem um profundo respeito pelo texto do camarada. “É um texto excelente. Se você lê, é literatura. Se encena, é teatro. E eu sabia o que queria dessa peça. O que o públivocê vai assistir é exatamente o texto do Karam.” Os atores, inclusive, brincam que Bruel puxa orelha até por suspiros fora de lugar.
“O bonito é que o Karam não te dá um final fechado. Ele é aberto como a vida. É o espetáculo do meu amigo”, diz. “Eu tenho um carinho muito especial por esse texto. É sobre o absurdo do dia a dia. E eu comecei a fazer teatro com o meu amigo Karam.”
No Festival de Curitiba, Bruel enxergou desde sempre um modo de disseminar a cultura local. “Quando começamos a trazer pra cá peças de fora, as pessoas de fora começaram a olhar. E nisso também olharam para o que a gente fazia aqui”, relembra. “Tomara que o Festival cresça sempre muito mais.”
Agora, o que ele quer é que a história da cultura curitibana passe a grassar também entre a nova geração. “Deveria ter uma matéria sobre a história do teatro de Curitiba nas faculdades. O pessoal que cursa artes cênicas na FAP [Faculdade de Artes do Paraná], por exemplo, às vezes não tem ideia do que já aconteceu lá atrás.”
E Beto Bruel está satisfeito com essa primeira experiência como diretor? “A montagem de uma peça de teatro é uma grande lição de democracia, todo mundo se envolve. E quando você está envolvido, mergulhado, na verdade você não tem muita noção do que está acontecendo”, despista.
“Mas eu acho que a plateia vai se sentir muito à vontade assistindo à peça. É teatro do absurdo. E nos últimos quatro anos tivemos um grande teatro do absurdo no Brasil. Estamos acostumados.”