A arte que muda o mundo
O Festival de Curitiba não usa o slogan “para todos” à toa. Neste ano, a preocupação com a inclusão começa já na “Mostra Surda de Teatro”, que abarca peças, esquetes e performances produzidas, escritas e protagonizadas por pessoas com deficiência auditiva. As sete obras fazem parte de um projeto que nasceu dentro do próprio Festival, por inspiração da equipe que nos anos anteriores traduzia as sessões para LIBRAS.
O espetáculo teatral “Meu Corpo Está Aqui”, traz atrizes e atores PCDs (pessoas com deficiência) falando abertamente sobre seus relacionamentos, seus corpos e seus desejos, baseado em experiências pessoais. No elenco, estão Bruno Ramos, Haonê Thinar, Juliana Caldas e Pedro Fernandes.
Outros três trabalhos colocam uma lupa sobre as discriminações e preconceitos que ainda hoje compõem a feroz paisagem social e política brasileira.
Em “Meretrizes”, novo espetáculo do Coletivo Projeto Gompa, um dos mais premiados grupos teatrais gaúchos, o ponto de partida é a prostituição feminina no Rio Grande do Sul. Para construir o texto, a diretora Camila Bauer e a atriz Liane Venturella passaram mais de um ano coletando depoimentos de profissionais do sexo. No palco, ainda estarão duas mulheres que realmente vivem do meretrício, incluindo uma convidada local.
De São Paulo, “Manifesto Transpofágico” é um convite da intérprete e dramaturga Renata Carvalho para que a plateia olhe e escrutine, em cena, o seu corpo travesti. É ainda uma denúncia da construção patológica, criminal e brutalmente sexualizante que permeia o senso comum quando o tema são travestis e transexuais.
Por fim, “Macacos”, também de São Paulo, é um monólogo escrito, dirigido e interpretado por Clayton Nascimento, que por conta da encenação recebeu o Prêmio Shell de Teatro. A maior glória para o artista, no entanto, talvez tenha sido a reabertura do inquérito que investiga a morte do menino Eduardo, no Complexo do Alemão, em 2015. Um dos tantos exemplos do nosso racismo abordados na peça, a história comoveu na plateia o advogado João Pedro Accioly, que ali mesmo se ofereceu para assumir a ação.
