“A lona do circo é a Casa-Grande”, disse Ricardo Rodrigues, diretor do espetáculo “Prot{ago}nista: Um Movimento Negro no Picadeiro”, durante a entrevista coletiva na Sala Jô Soares, na manhã deste sábado (1º).
Rodrigues chamou atenção quanto a falta de protagonismo de artistas negros no circo brasileiro e ao apagamento da memória dos poucos que conseguiram destaque neste segmento.
Vencedor do Prêmio Shell, o espetáculo circense com 21 artistas em cena estreia neste sábado (1º) no Guairinha, dentro da Mostra Lucia Camargo.
Com música autorais e arranjos específicos para a apresentação, capoeira, samba nos tecidos, os artistas negros se revezam no palco “numa grande celebração”. “Trazemos para cena corpos pretos potentes na música, na dança e no circo”, destacou o diretor.
O projeto foi criado em 2019, a partir do incômodo da falta de referências de protagonismo negro na cena circense. Durante a coletiva, o grupo comentou sobre a apresentação que aconteceu no Theatro Municipal de São Paulo, em maio de 2019, quando se sentiram acolhidos, mas também julgados por serem um grupo circense no em um ambiente estranho à realidade do grupo.
“Muitos de nós pisamos pela primeira vez no Theatro Municipal. Foi muito importante ver parentes na plateia, foi um marco”. O encontro dos artistas que hoje integram o coletivo aconteceu antes de nascer o projeto. Muitos já se conheciam ou conheciam o trabalho um dos outros.
“Não tive nenhuma referência negra. Todos falam da grandiosidade, mas eu tinha certeza que precisava mostrar também as minhas raízes”, disse a atriz Tatilene Santos, que faz um número de samba no tecido, usando a voz e movimentos.
Munique Cõsta, que conheceu o grupo como espectadora, e depois se tornou integrante do coletivo, destaca que o grupo é formado por pessoas fenotipicamente muito distintas, cabelos diferentes, e sempre reforça a representatividade que o espetáculo traz. “A apresentação vai além, é sobre vida, sonhos e a continuidade do nosso povo”, disse.
“A peça perpassa por vários ritmos afrodiaspóricos, que interferem, em que cada música tem um estilo diferente”, disse Renato Ribeiro, assistente de direção. “A primeira música é uma referência a Cassiano e também a Racionais MCs: O negócio vai ficar preto, é para já dar a letra do que vai acontecer no palco”, explicou Ribeiro.
Ainda sobre a música, Tô Bernardo, diretor musical, falou sobre a canção nova que estreou recentemente e estará no espetáculo. “Estamos ainda em metamorfose do repertório, mas está incrível”, destacou.
Com muito esforço e trabalho, Ricardo destacou o empenho para colocar novas narrativas em cena, cenário da literatura, teatro e circo. O diretor comentou ainda sobre o apagamento das referências negras no circo, mas destacou Benjamin Oliveira, que dominava o picadeiro e o contemporâneo, o Circo Guarani.
“Vem do plural, para dar protagonismo aos nossos”, cada artista tem um momento no palco para se apresentar e assim ser “protagonista”. “O circo ainda tem muito da estrutura branca, precisamos entender o contexto histórico”, destacou Renato Ribeiro.
O diretor encerrou a participação na coletiva ressaltando a mudança de paradigma para que Festival se torne um local com mais coletivos negros, menos exóticos, em que o espetáculo seja a principal informação.
SERVIÇO:
Prot{ago}nista: Um Movimento negro no Picadeiro – Mostra Lucia Camargo
Local: Guairinha – Auditório Salvador de Ferrante, Rua 15 de Novembro, 971, Centro
Data e horário: Dia 1 às 20h e domingo (2) às 19h
Duração: 80′
Classificação: Livre
Ingressos: R$ 80,00 (inteira) e R$40,00 (meia-entrada)
Lotação Esgotada.