O diretor teatral Marcelo Varzea não gostava de jogar futebol na infância. No Brasil dos anos 1970, o estranhamento que isso causava equivalia à aparição de um extraterrestre e fazia o menino se sentir deslocado e ser cobrado por outras crianças e adultos. “Em outro país não haveria problema algum. Mas aqui não, era uma desgraça”, disse durante a entrevista coletiva neste sábado no Hotel Mabu.

Varzea é co-diretor, ao lado de Erica Rodrigues, da peça “Valentim Valentinho”, espetáculo premiado pelo APCA com texto e idealização de Fran Ferraretto que trata de temas como medo, bullying, opressão e racismo, e especialmente, a construção da masculinidade dos meninos brasileiros. O protagonista da peça também não gosta de jogar futebol.

No texto de Ferraretto o menino prestes a completar onze anos sonha em ganhar ‘coragem’ de presente de aniversário. “A peça fala para meninas e meninos. Eu acho que, de uma forma clara, com a linguagem apropriada, a gente pode falar tudo para as crianças de uma geração que está vindo aí, que entende muito rápido, são muito inteligentes. Assim, é importante falar de feminismo, da questão racial e de gênero com as crianças”, disse a autora.

Guritiba

Valentim Valentinho é um dos destaques da programação do Guritiba, projeto cultural e social que tem como foco a democratização do acesso à arte para crianças, adolescentes, educadores e famílias. Em 2024, o programa vai até o dia 7 de abril, com uma programação especial com espetáculos com temática infantil.

A diretora do Festival, Fabíula Passini, destacou as ações duradouras do programa e a capacidade de criar uma geração de apreciadores de teatro. “A criança pode até não ser um ator, o teatro desenvolve, o senso crítico e a deixa mais preparada para a vida. Toda criança deveria fazer algumas aulas de teatro. Acredito que se a criança for desde pequenininha assistir um teatro, a gente vai ter sim um público maravilhoso para o futuro. Isso é uma coisa muito importante, que é fazer o público se aproximar da obra”, disse.

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