Neste fim de semana, nos dias 06 e 07, às 16h no Teatro Bom Jesus, o público do Festival de Curitiba vai poder conhecer o universo de Nati, a menina negra de 9 anos que faz uma viagem de reconhecimento de sua ancestralidade afro-indígena no espetáculo “Itan e Tal”, do Grupo Baquetá.
“A história dele é fundamentada nas histórias das crianças negras paranaenses. Ele tem vergonha do nome, pois aqui é muito importante ter um sobrenome europeu. A gente aprende a ter vergonha do nosso nome e dos nomes dos antepassados”, explica o diretor Marcel Malê.
“O final da jornada da Nati que cumpre a jornada de se conhecer melhor é a valorização do que se é. Ela tem estrutura familiar e a gente vai plantando a possibilidade de outros imaginários para as crianças que se reconhecem nela”, disse o diretor na entrevista coletiva do Hotel Mabu na ultima quinta-feira (4).
O nome “Itan” faz referência à mitologia dos orixás da cultura afro-brasileira e africana, explica a atriz Kamyla Santos, que interpreta Nati. “A história dele é fundamentada nas histórias das crianças negras paranaenses. Ele tem um imaginário de potência. Nos livros didáticos há só sofrimento, mas na mitologia africana há muita riqueza, saberes e poesia.”
Itan e Tal foi o primeiro espetáculo teatral de quase 30 mil crianças da rede pública estadual do Paraná depois que a secretaria de cultura lançou um edital para a produção de uma peça com este objetivo que deveria se basear em contos de fadas.
O grupo Baquetá, que há 15 anos trabalha em projetos de pesquisa cultural, percebeu que as tradições afro-brasileiras e africanas também têm histórias significativas para oferecer. Marcel Malê enfatizou: “Nós fomos entendendo que a cultura afro-brasileira e africana também tem essas tradições que emergem no próprio território do Paraná.”
Malê disse que como diretor, ficava “babando e chorando nos espetáculos”, observando tanto o que acontecia no palco quanto na plateia. “Quando a Nati apresenta um cabelo afro-brasileiro, eu via as meninas negras se reconhecendo com um encantamento que talvez tenha sido a primeira vez de se ver no palco”.