Ao lado de Emílio de Mello, ator deu entrevista coletiva na manhã desta quarta-feira, antes da primeira apresentação de “In on It” nesta edição do Festival de Curitiba

Por Sandoval Matheus

Fernando Eiras e Emílio de Mello. Foto: Annelize Tozetto.

Quando os atores Emílio de Mello e Fernando Eiras contracenaram pela primeira vez no fenômeno de público e crítica “In on It”, quinze anos atrás, o filho de Emílio, Valentim, tinha apenas três anos de idade – e o hábito de engatinhar pelo palco enquanto os adultos trabalhavam nos ensaios. Hoje, o bebê se transformou num homenzarrão de mais de 1,80m, que frequenta a peça do pai na plateia, carregando consigo os amigos.

“E o Valentim ainda vai ser muito famoso, podem anotar o nome dele aí”, brincou Fernando Eiras na manhã desta quarta-feira, 02, durante entrevista coletiva na Sala de Imprensa Ney Latorraca, no Hotel Mabu. A conversa aconteceu poucas horas antes da primeira sessão de “In on It”, que volta ao Festival de Curitiba depois de ter sido um verdadeiro arrasa-quarteirão em 2009.

O ator estava bem-humorado, mesmo após um sono intranquilo, que precisou ser estimulado por uma mistura de Lexotan e Miosan – não é recomendável replicar a técnica sem supervisão.

“Essa noite foi um inferno. Eu tive pesadelos terríveis, sonhos ruins com a natureza. E eles não acabavam nunca. Eu sonhei o cão. Tudo por causa do nosso ensaio”, comentou com o colega, como se jogassem conversa fora no sofá de casa, e não na frente de vinte jornalistas.

Um pouco antes, Fernando já havia se desviado da pauta da entrevista pra tirar sarro da nova fórmula terapêutica adotada pelo amigo: o óleo de melaleuca – que, dizem, funciona como um antisséptico natural. “Vamos falar do óleo. Vamos divertir eles, que estão anotando tudo”, riu.

“É que eu ando muito irritado com a poeira. A poeira dos teatros”, confessou Emílio, mais a sério.

Seja como for, os ensaios em quartos de hotel repetem de alguma forma o que ambos fizeram década e meia atrás, quando decoravam o texto e adquiriam entrosamento na sala um do outro, frequentemente depois de almoçarem juntos. A dramaturgia do canadense Daniel MacIvor, com um cenário absolutamente despojado, formado por duas cadeiras e uma jaqueta, nunca pediu mesmo muito mais do que isso.

Com a convivência, os dois parecem ter adquirido no palco – e fora dele – um entendimento irreproduzível. “Não dá pra chamar um outro ator pra fazer esse espetáculo. Por melhor que ele seja, não tem a história que a gente tem”, analisou Emílio. “A peça existe pelo jogo. É preciso ter essa sintonia. Foram muitos jantares, muitas horas de ensaio, muitos cafés pra gente chegar aqui.”

Fernando Eiras continuou, numa pegada muito mais mística, como parece ser o seu estilo: “Eu encontrei alguém que transita na mesma esfera de consciência que eu. Um anjo em cena, que me aceita com meus erros. Como Deus me fez, por linhas tortas”, disse, antes de cometer um inconfidência. “E o Emílio encontrou o amor da vida dele aqui em Curitiba”.

Casado com a atriz Daniele do Rosário, Emílio de Mello costuma visitar a capital paranaense pelo menos duas vezes por ano. Na atual estadia, chegou à cidade ainda antes do início do Festival para preparar o terreno, como produtor, para a apresentação de “Os Mambembes”, na abertura. “Estou gostando muito mais de Curitiba dessa vez. As pessoas parecem mais felizes, mais bonitas. O Festival deixa a cidade mais pulsante, sinto um certo entusiasmo por estar aqui.”

Redes Sociais