Quem não puder ir até o teatro terá duas oportunidades para assistir às peças na Plataforma Fringe; espetáculos serão gravados e transmitidos no dia seguinte
Por Dani Brito
“Vozes Silenciadas.” Foto: Gracy Kelly.
Após o sucesso de sua primeira edição, a Mostra Surda de Teatro está de volta ao Festival de Curitiba em 2025 – de 24 de março e 06 de abril –, reafirmando seu papel como uma plataforma inédita essencial para a expressão artística da comunidade surda. A Mostra ocorrerá entre os dias 28 e 30 de março, no Teatro SESC da Esquina. Os ingressos, gratuitos, serão distribuídos uma hora antes dos espetáculos por ordem de chegada.
Sob a curadoria do diretor e intérprete de Libras Jonatas Medeiros e da artista surda Rafaela Hoebel, a Mostra Surda consolida-se como um espaço de protagonismo e representatividade, destacando espetáculos produzidos e atuados por artistas surdos de diferentes regiões do Brasil. Jonatas Medeiros comemora o deslocamento para um espaço mais amplo e confortável para público e artistas e destaca que a continuidade do evento reforça o compromisso do Festival de Curitiba com a inclusão e a acessibilidade: “A permanência da Mostra Surda de Teatro representa um compromisso tanto do festival em manter a comunidade surda próxima e atuante, quanto da própria comunidade surda, que encontra nesse espaço uma vitrine para suas produções”.
Para a diretora do Festival de Curitiba, Fabíula Passini, a permanência da Mostra Surda na programação é essencial: “Ela proporciona um espaço crucial para a expressão artística e cultural da comunidade surda, celebrando sua língua, identidade e experiências, além de incentivar a participação e o desenvolvimento de talentos artísticos”.
Diversidade de linguagens
A programação deste ano traz sete espetáculos que exploram diferentes linguagens cênicas, abordando temas como identidade, resistência, cultura surda e interseccionalidade. “Este ano nós trouxemos um núcleo de três mulheres artistas do Ceará, a Flutuante Produção Cultural, que são duas surdas e uma ouvinte tradutora de Libras. E esse núcleo vai atuar e apresentar quatro espetáculos diferentes”, conta Rafaela Hoebel. Um dos destaques é “Vozes Silenciadas”, que abre a Mostra na sexta-feira (28 de março). O drama traz relatos reais de surdos do interior do Ceará e denuncia injustiças vividas por essa comunidade.
O núcleo cearense também marca presença com dois espetáculos infantis: “A Astronauta Mara: a aventura no mundo das bocas e das mãos” e “A Chapeuzinho Azul” – este último, uma releitura inclusiva do clássico conto infantil, em que a cor azul, que representa a identidade surda, assume o lugar do clássico vermelho. Outro espetáculo do grupo Flutuante que também deve agradar a todos os públicos é “A Palhaça Surda Mara”, no qual Lyvia Cruz mergulha em questões significativas como identidade de gênero, relacionamentos e maternidades sob a perspectiva da surdez e com muito humor.
O monólogo “Ilíada em Libras”, espetáculo da Fluindo Libras e Cia Ilíada de Homero, de Curitiba, é outra atração imperdível. Sob direção de Rafaela Hoebel e Otávio Camargo, Jonatas Medeiros traduz e performa o texto homérico em Libras, proporcionando uma experiência teatral singular. O espetáculo tem leitura em português.
Na interseccionalidade entre surdez e negritude, o espetáculo “Corpo, Preto, Surdo: Nós Estamos Aqui”, da Cia. de Teatro BH em Libras, traz uma abordagem bilíngue, com atores surdos e ouvintes dialogando sobre pertencimento e identidade.
A programação também contempla a linguagem da dança com “Movimento de Escuta”, do Rio de Janeiro. A apresentação, que mistura passinho, SLAM e poesia visual surda, contará com cinco sessões ao longo da Mostra Surda num espaço reservado dentro do teatro.
Troca de experiências
Além dos espetáculos, a Mostra Surda 2025 oferecerá um bate-papo no encerramento e uma oficina, na sexta-feira, das 9 ao meio-dia, ambos promovidos pelo grupo Movimento de Escuta. A proposta é aproximar ainda mais o público da experiência surda na arte.
A Mostra Surda de Teatro é uma das ações promovidas pela Fluindo Libras, coletivo cultural voltado para arte surda e tradução em Libras, que contou com o apoio de emenda parlamentar do vereador Angelo Vanhoni. O vereador foi relator do Plano Nacional de Educação em 2016, em que defendeu o reconhecimento e financiamento da educação bilíngue para surdos como modalidade de ensino.
Online
Quem não puder ir até o teatro terá duas oportunidades para assistir peças na Plataforma Fringe. Espetáculos serão gravados e no dia seguinte transmitidos. São eles:
Espetáculo: Vozes Silenciadas
Transmissão: 20/3 às 20h
Espetáculo: Ilíada
Transmissão: 30/3 às 19h
PROGRAMAÇÃO
“Vozes Silenciadas”
28 de março às 20h
No Sesc da Esquina
Drama
Classificação: 16 anos
Fortaleza – CE
Duração: 50’
Flutuante Produção Cultural – @flutuante.produtora
Sinopse: “Vozes Silenciadas” é uma performance que dramatiza relatos reais de surdos do interior cearense, abordando temas como diagnóstico, educação, emprego, exploração financeira e discriminação. A performance busca sensibilizar o público sobre as injustiças enfrentadas pela comunidade surda e destacar a importância de amplificar suas vozes. A mensagem final é de resiliência e empoderamento, com atrizes surdas unindo-se para desafiar o silêncio imposto. A obra é um manifesto pela justiça e dignidade dos surdos.
Ficha Técnica: Lyvia de Araujo Cruz, Renata Rocha de Freitas e Gracy Kelly Amaral Barros.
“A Chapeuzinho Azul”
30 de março às 10h
No Sesc da Esquina
Contação de História Infantil
Classificação: Livre (L)
Fortaleza – CE
Duração: 50’
Flutuante Produção Cultural – @flutuante.produtora
Sinopse: em uma vibrante releitura do clássico conto “A Chapeuzinho Azul”, a montagem nos transporta para uma floresta repleta de personagens únicos, cada um com lições valiosas sobre a cultura surda. A protagonista, Chapeuzinho Azul, é uma jovem Coda (filha de pais surdos), que, com empatia e sabedoria, percorre um caminho de descobertas. No percurso, ela interage com figuras marcantes: sua mãe e avó surdas, o enigmático Lobo, também surdo, e o Caçador, um ouvinte que aprende com as experiências ao seu redor. Este conto moderno não apenas narra uma jornada de aventura, mas, também, celebra a inclusão e o respeito à diversidade cultural, convidando o público a refletir sobre o valor da convivência e da acessibilidade.
Ficha Técnica: Gracy Kelly Amaral e Lyvia de Araujo Cruz.
“A Palhaça Surda Mara”
30 de março às 14h
No Sesc da Esquina
Comédia / Palhaçaria
Classificação: Livre (L)
Fortaleza – CE
Duração: 30’
Flutuante Produção Cultural – @flutuante.produtora
Sinopse: no mundo da arte, a diversidade é um convite para a inovação e a expressão. Neste espírito, a talentosa artista surda Lyvia Cruz apresenta sua mais recente performance, assumindo o papel da adorável e divertida Palhaça Mara. Suas expressões corporais faciais transmitem uma riqueza de emoções e narrativas. Mara aborda questões significativas que ressoam com o corpo feminino, tais como descobertas, identidade, gênero, formação, gestação, relacionamentos e estereótipos. O que torna esta performance ainda mais especial é a abordagem inclusiva de Lyvia Cruz. Como artista surda, ela traz uma perspectiva única para o palco, desafiando as noções convencionais de comunicação.
Ficha Técnica: Lyvia de Araujo Cruz e Gracy Kelly Amaral Barros.
“A Astronauta Mara: Aventuras no Mundo das Bocas e das Mãos”
Estreia Nacional
29 de março às 10h
No Sesc da Esquina
Infantil
Classificação: Livre (L)
Fortaleza – CE
Duração: 50’
Lyvia Cruz Libras – @lyviacruzlibras
Sinopse: “A Astronauta Mara: Aventuras no Mundo das Bocas e das Mãos” é uma apresentação bilíngue (Libras e Língua Portuguesa) que leva o público em uma jornada cósmica, promovendo inclusão e diversidade. A astronauta Surda Mara explora dois planetas: o das Mãos, onde todos falam Libras, e o das Bocas, onde as pessoas são ouvintes e querem aprender sobre a cultura Surda. Com um robô intérprete, a história se desdobra em uma aventura educativa e lúdica, celebrando a riqueza das relações interpessoais e das diversidades culturais.
Ficha Técnica: Contadora e Atriz Surda: Lyvia de Araujo Cruz; Intérprete e Atriz Ouvinte: Gracy Kelly; Intérprete de Apoio: Geisiele Cavalcante; Produtora: Juliana Tavares.
“Corpo, Preto, Surdo: Nós Estamos Aqui”
30 de março às 19h
No Sesc da Esquina
Drama
Classificação: Livre (L)
Belo Horizonte – MG
Duração: 60’
Cia de Teatro BH em Libras – @bhemlibras
Sinopse: o espetáculo “Corpo, Preto, Surdo: Nós Estamos Aqui” é uma produção teatral que aborda a experiência de pessoas surdas e ouvintes negras, ao explorar questões de identidade, representatividade e resistência. Por meio de uma combinação de performance física, língua de sinais e outros recursos cênicos, o espetáculo busca ampliar a visibilidade e a compreensão das histórias e lutas das pessoas surdas e ouvintes negras. Além disso, promove um espaço de reflexão sobre a inclusão e a diversidade dentro e fora das artes. “Corpo, Preto, Surdo: Nós Estamos Aqui” é uma peça que convida o público a reconhecer e valorizar a riqueza das experiências plurais.
Ficha Técnica: Direção: Carlandreia Ribeiro; Direção de Texto em Libras: Dinalva Andrade; Texto: Carlandreia Ribeiro e Marcos Andrade; Texto: Meu Rosário – Conceição Evaristo; Elenco: Jaqueline Gonçalves e Marcos Andrade; Voz Off: Carlandreia Ribeiro; Cenografia: Jacko Nascimento; Figurino: Anderson Ferreira; Iluminação: Veec Santos; Coreografia: Marcos Andrade; Operação de Som: Mateus Souza; Apoio Cultural: Galpão Cine Horto.
“Ilíada em Libras: Canto I”
29 de março às 19h
Sesc da Esquina
Drama
Classificação: 12 anos
Curitiba – PR
Duração: 60’
Fluindo Libras e Cia Ilíada de Homero – @fluindolibras e @ciailiadahomero
Sinopse: “Ilíada em Libras – Canto I” é uma montagem teatral da Ilíada de Homero, traduzido e performatizado na Língua Brasileira de Sinais. A peça narra em Libras o último ano de combate da Guerra de Tróia, o embate de Aquiles, o maior herói entre os gregos, e o rei Agamenon. O tradutor-ator, Jonatas Medeiros, performatiza um monólogo com poesia visual sinalizada, interpretando os personagens homéricos em uma empreitada inédita que articula a língua de sinais, tradução e teatro.
Ficha Técnica: Direção: Octávio Camargo e Rafaela Hoebel; Ator: Jonatas Medeiros; Voz: Fernando Marés; Iluminação: Fernando Dourado; Fotografia: Gilson Camargo; Making Of: Giuliano Robert; Intérprete de Libras: Viviana Rocha e Felipe Patrício; Produção: Felipe Patrício; Assistente de Produção: Chris Gomes e Viviana Rocha; Realização: Fluindo Libras e Cia Ilíada de Homero.
“Movimento de Escuta”
28 de março às 17h
29 de março às 11h e 17h
30 de março às 11h e 16h
Oficina Movimento de Escuta – 28 de março às 9h
Sesc da Esquina
Dança
Classificação: Livre (L)
Rio de Janeiro – RJ
Duração: 50’
Projeto SOM – @projetosom_
Sinopse: “Movimento de Escuta” é um espetáculo de dança sobre cultura surda da Cia de Dança SOM, composta por cinco bailarinos surdos. O espetáculo tem direção de Clara Kutner, que também é fundadora da Cia carioca e do Projeto SOM. “Movimento de Escuta” fala sobre comunicação. Hoje, neste país fragmentado pós-pandemia, como afinar nossos sentidos e nossa comunicação? Uma metáfora de um campo de batalha onde os bailarinos “lutam” com seus corpos em um jogo que mescla dança e SLAM. A poesia visual surda é de extrema importância para nosso grupo, e serve como instrumento coreográfico também.
Ficha Técnica: Criação e Direção Geral: Clara Kutner; Intérpretes Criadores: Alef Felipe, Lucas Guilherme, Luiz Augusto, Thayssa Araújo e Valesca Soares; Coreografias, Técnica do Funk e Colaboração Musical: Celly IDD; Dramaturgia e Colaboração Coreográfica: Cia de Dança SOM; Direção Musical: Luciano Camara; Desenho de Luz: Tiago Rios; Direção de Arte: Clara Kutner e Cora Marinho; Figurino e Beleza: Cora Marinho; Artista Visual (Quadro de Cena): Alef Felipe; Assistência Figurino e Beleza: Matheus Augusto e Nomad Cruz; Programação Visual: Alef Felipe, Arantes Gabriel, Nara Morais e Vini Guerra; Fotos: Paula Kossatz; Colaboradores Artísticos: Bruno Ramos, Gabriel Soares e Ruan Aguiar; Direção de Produção: Aline Carrocino (Alce Produções); Prestação de Contas: Simone Vieira; Realização: Doralice Produções, A Arte Nunca Dorme Produções e Cia de Dança SOM.
A Mostra Surda de Teatro é uma idealização e produção da Fluindo Libras com a Sala 603.