De 25 de março a 7 de abril de 2024

2024 32º Edição
Texto do francês Jean-Luc Lagarce, um dos mais importantes do teatro contemporâneo, terá seis sessões, todas esgotadas.

Por Sandoval Matheus

Foto: Annelize Tozetto.

Se você é daqueles que gosta de pensar fora da caixa, talvez goste de ver o teatro feito fora dela. A oportunidade, nesse caso, é a peça “Apenas o fim do mundo”, em cartaz na Mostra Lucia Camargo, com seis apresentações a partir de amanhã. A má notícia é que os ingressos foram os primeiros a ficarem totalmente esgotados nesta edição do Festival de Curitiba. Nem as três sessões extras abertas deram conta de atender ao público.

O espetáculo do grupo pernambucano Magiluth é um mergulho na obra do dramaturgo francês Jean-Luc Lagarce, um dos mais importantes autores do teatro contemporâneo e, em vez de acontecer num palco, vai usar todo o espaço do Palácio Garibaldi na encenação. “Eu recomendo que o pessoal vá de tênis, com bastante animação, de calça e roupa escura, pra poder sentar no chão”, avisou Luiz Fernando Marques Lubi, aos risos, na manhã desta terça-feira, 02, durante entrevista coletiva no Hotel Mabu. Ele assina a direção ao lado de Giovana Soar, também tradutora do texto e uma das curadoras do Festival de Curitiba.

Os dois diretores, que são de São Paulo e Curitiba, respectivamente, estão no espetáculo como convidados dos pernambucanos.

“Eu sou um defensor do teatro fora da caixa”, continua Lubi. “Quando você pensa em teatro, pensa logo também na caixa cênica, no palco. Isso reduz muito a criação. Às vezes, quando uma pessoa diz que a cidade dela não tem teatro, está querendo dizer que não tem apenas a caixa cênica.”

A princípio, a montagem havido sido prevista para a edição de 2020 do Festival, à época sob a curadoria de Márcio Abreu e Guilherme Weber, mas os planos acabaram suspensos por conta da epidemia de covid-19.

“Foi um espetáculo que infelizmente circulou muito pouco”, lamenta Giovana. “E Curitiba é um lugar possível para acolher essa peça, porque reúne as condições, os espaços.”

No enredo, um homem que se afastou da família durante 15 anos, finalmente volta pra casa, pra dar a notícia de que está morrendo. “Mas nesse período, o pai morreu, o sobrinho nasceu, ele não viu nada. Essa distância vai tornando difícil pra ele dar a notícia”, explica Pedro Wagner, que vive o protagonista. “E então coisas absurdas, belas, assustadoras a engraçadas acontecem.”

Fazendo um paralelo com o “teatro fora da caixa”, Pedro continua: “A gente vem de Pernambuco, que todo ano tem uma das peças de maior deslocamento do país, a Paixão de Cristo. Esse texto do Lagarce também é uma paixão. O meu personagem está passando ali por uma via-crúcis.”

O processo de ensaios, com o grupo de atores e a dupla de diretores tendo de cobrir uma distância considerável, acontecia pontualmente e de forma intensa, no modelo de residência. Em uma das ocasiões, todos ficaram em regime de internato, durante doze dias em uma chácara, com esposas, maridos e filhos. “A gente ensaiava e ensaiava esse texto. E também cozinhava, tinha mãe que dava de mamar”, conta Giovana.

A proximidade ajudou a direção a se adaptar ao estilo do grupo Magiluth, de completa horizontalidade nas decisões, onde todo mundo necessariamente opina a respeito de tudo. “É assim que somos. É assim que a gente consegue fazer as coisas”, explica o ator Mário Sérgio Cabral. “Errando muito, acertando um pouco, enlouquecidamente.”