Ator é a estrela de “O Grande Dia”, em cartaz na Mostra Solos do Festival de Curitiba, com sessões às 17 e às 22h deste sábado

O ator e boxeador Reinaldo Lopes. Crédito: Annelize Tozetto.

Indicado ao Prêmio Shell deste ano por sua atuação na peça “O Grande Dia”, em cartaz na Mostra Solos do Festival de Curitiba, o ator negro da Baixada Fluminense Reinaldo Lopes não ficou apenas feliz quando soube que estava no páreo da maior honraria do teatro nacional. “A primeira coisa que pensei foi: quantos outros não foram indicados? Quantos foram apagados no decorrer dessa história?”

Reinaldo acabou não recebendo o galardão, que foi para Cridemar Aquino, também negro, por “Joãosinho e Laíla: Ratos e Urubus, Larguem Minha Fantasia”.

Antes disso, em 32 anos, apenas um ator afrodescendente havia levado a estatueta concorrendo pelo júri do Rio de Janeiro: Milton Gonçalves, em 2004. “O avanço que vemos ainda é pouco. Não tem como o prêmio mais importante do nosso teatro continuar a ser dominado por pessoas brancas. O Brasil é preto e indígena.”

“O Grande Dia” conta a história de importantes homens negros do século 20, no momento em que eles estiveram na encruzilhada que alterou para sempre o rumo de suas vidas. No palco, Reinaldo interpreta, entra outros, nomes como Muhammad Ali, Mumia Abu-Jamal (ex-integrante dos Panteras Negras), Malcom X, Thomas Sankara (revolucionário africano) e os brasileiros Mestre Casquinha (da Velha Guarda da Portela) e Rubens Barbot (bailarino gaúcho).

“Foram todos homens que impuseram algum tipo de resistência, que lideraram algum tipo de levante”, explica Reinaldo. “O Ali, por exemplo, teve muita importância pra exaltar a beleza negra, nos anos 60”, lembra André Lemos, diretor da peça e que também assina o texto. “É um espetáculo sobre a luta cotidiana contra o racismo estrutural.”

“A cada 23 minutos, um jovem negro morre no Brasil”, contabiliza Reinaldo. “Com essa peça, queremos romper com esse estigma. Queremos dar uma vida mais longa a esses jovens.”

Nascido na periferia da cidade de Mesquita, o ator de 31 anos, que também é boxeador e inclusive já venceu campeonatos amadores, retira o exemplo da sua própria trajetória. Reinaldo começou a lutar aos 12 anos de idade. “Pra mim, o boxe foi um farol. Ele me deu disciplina, vigor físico, melhorou minha alimentação, minha respiração, minha concentração, minha noção de espaço. Coisas que hoje uso no palco, no ofício de ator. A arte e o esporte realmente salvam vidas”, constata.

“O palco é um grande ringue em que você não precisa necessariamente lutar contra algo, mas em que está sempre lutando a favor de algo.”

O boxe ofereceu a Reinaldo, ainda, a possibilidade de se defender em ambientes quase sempre hostis. “Eu acho que a gente tem que ter um corpo bélico. Não tem como devolver amor pro mundo o tempo inteiro, se o que você recebe é violência. É preciso praticar a autodefesa”, sugere. “Eu prefiro lutar no palco, mas nem sempre isso é possível.”

 

Serviço:
O Grande Dia”
Data e Horário: 1º de abril, às 17h e às 22h
Local: Casa Hoffmann – Rua Doutor Claudino dos Santos, 58 – São Francisco
Classificação: Livre
Duração: 90′
Ingressos: www.festivaldecuritiba.com.br e no Shopping Mueller (Piso L3).
Valores: R$ 50 e R$ 25 (meia)

Por Sandoval Matheus – Agência de Notícias do Festival de Curitiba

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