Baseada nas “memórias clandestinas” de Soledad Barret Viedma, a peça retrata também a vida de outras mulheres, vítimas da opressão e que marcaram gerações

Por Jasmini Oliveira, especial para o Festival de Curitiba

“Soledad.” Foto: Luiz Gustavo Engroff.

“Soledad: Peça de Agitação” conta a história de mulheres da América Latina que foram vítimas da ditadura e outras formas de opressão. Inspirada na vida da poeta e militante Soledad Barrett Viedma, a peça mistura cenas, músicas e diálogos para mostrar momentos de resistência e esperança e também usa elementos visuais e simbólicos. Apresentada ao ar livre, a obra mistura poesia e teatro, e as atrizes atuam de forma a deixar o ambiente influenciar suas cenas.

Mariana Corale, diretora da peça, conta que a pesquisa sobre a ditadura, iniciada em 2015, resultou na criação de um manto bordado em homenagem às mulheres assassinadas durante esse período. A partir disso, ela passou a estudar essas mulheres e, ao bordar sobre Soledad, se envolveu profundamente com sua história. Foi então que surgiu a ideia de transformar sua trajetória em uma peça. Em 2021, enquanto preparava seu doutorado, o projeto ganhou forma, baseado em arquivos da Comissão da Verdade. Durante essa pesquisa, Mariana conectou Soledad a outras mulheres, criando um mapa de resistência feminina.

Soledad Barret Viedma foi uma poeta e militante paraguaia que lutou contra a ditadura militar no Brasil. Desde jovem participou de movimentos políticos e até chegou a ser sequestrada por um grupo neonazista no Uruguai. Após isso, recebeu treinamento em Cuba e veio para o Brasil, onde se integrou à Vanguarda Popular Revolucionária. Em 1973, grávida de quatro meses, foi traída pelo companheiro, Cabo Anselmo, que era um infiltrado da ditadura. Soledad e outros companheiros foram presos e executados na Chacina da Chácara São Bento, em Pernambuco. Seu caso ainda é investigado pela Comissão da Verdade, que busca esclarecer crimes cometidos pelo regime militar.

Uma das atrizes do elenco é a neta de Soledad, Yalis Barrett Drummond, convidada por Mariana Corale para participar do espetáculo. “Durante a pesquisa histórica, procurei Ñasaindy Barrett de Araújo, única filha de Soledad. Ela me contou que uma de suas quatro filhas mora em Florianópolis, na Praia da Armação, e que trabalhava com som e música. A convidei para participar da peça sobre sua avó, e ela se juntou a nós”, revela Mariana.

Mariana explica que a peça faz uso de muitas alegorias e imagens para destacar não apenas os momentos de violência sofridos pelas militantes, registrados nos arquivos, mas também os momentos poéticos e positivos de suas vidas, como quando tiveram filhos. O espetáculo teve quatro apresentações gratuitas durante a 33.ª edição do Festival de Curitiba.

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