De 25 de março a 7 de abril de 2024

2024 32º Edição

O Festival de Curitiba reúne histórias de quem largou o tráfico e encontrou uma profissão. De pessoas que viram no teatro uma oportunidade de vida e de transformação. De quem descobriu um sentido e enxergou novos caminhos.

Alex se prepara para entrar no palco na peça Pessoas Brutas. FOTO: Humberto Araújo

É o caso de Alex de Jesus, de São Paulo. Há 9 anos, ele ia armado para a escola. Tinha ligação com o tráfico. Foi detido aos 14 anos. A salvação veio pelos palcos – a medida protetiva aplicada pela Justiça previa a participação dele num projeto social ligado ao grupo paulistano de teatro Os Satyros.

Dali ali diante, o teatro passou a ser a vida dele. Hoje, além de ator, Alex é advogado. “O teatro foi a minha salvação. Me apaixonei pela arte, descobri um sentido para a minha vida. Além disso, foi com o teatro que pude pagar uma faculdade e me formar em direito”.

Alex é um dos atores do grupo Os Satyros da peça Pessoas Brutas. O espetáculo fez parte do 30º Festival de Curitiba, que faz a cidade respirar arte e descobrir histórias de redenção através dos palcos.

A história de Alex não é a única.

Outro projeto de transformação a partir do teatro presente no Festival é A Trupe Periferia, coletivo formado por jovens atores, poetas e músicos de diversas comunidades do Paraná. Eles apresentam o espetáculo-poesia “A Bala alojada na arte”.

A peça retrata situações vivenciadas no cotidiano de jovens de periferia como eles e usa elementos do hip hop, como o grafite, nos cenários e figurinos.

Em ascensão, a Trupe tem sido convidada a participar de diversos projetos e eventos como a Festa Literária da Biblioteca Pública do Paraná, Festa Literária de Morretes, Mostra MOVE, Mostra Emergente, e agora, o Festival de Teatro de Curitiba.

Entre os integrantes da trupe está Liah Vitória, de 8 anos, mais jovem rapper e MC do grupo que abre a peça rimando um tema que criou quando sofreu preconceito na creche ao ouvir que seu cabelo era ruim. Liah chegou até a desistir de frequentar até conhecer na Trupe o rapper Triz também fala do preconceito em suas letras.

A partir deste encontro, Liah escreveu um rap para que as pessoas não passem pelo mesmo sofrimento. Na peça, a jovem atriz e cantora entra em cena com uma camiseta escrita “Ruim é teu preconceito”

Acessibilidade

Um festival de arte inclusivo e transformador também precisa cuidar da acessibilidade. Pessoas cegas ou surdas têm a oportunidade de acompanhar atrações do festival como exposições e espetáculos através de ações educativas que incluem interpretação em libras e audiodescrições.

Um trabalho que envolve inclusão e arte. Traduzir em libras no teatro, por envolver dramaturgia e performance, é muito diferente de uma tradução convencional.

No palco, estão os artistas. E na tradução, também estão artistas. “Traduzir em libras arte é fazer arte. Um perfil do tradutor que atua com tradução teatral é um perfil artístico e precisa dialogar com os elementos da peça”, afirma Jonatas Rodrigues Medeiros, tradutor Intérprete de Libras, ator e produtor.

 

Por Guiherme Bittar, Maria Emília Silveira e Sandro Moser