A peça Mutações, que integrou a Mostra Lucia Camargo na 32ª edição do Festival, tem sua dramaturgia inspirada no I-Ching, o “livro infinito” que é uma das bases da filosofia oriental. A peça, que marcou o retorno de Luís Melo aos palcos do Festival com direção de André Guerreiro Lopes, é um espetáculo de luzes, silêncios, poesia e sombras, com uma proposta cênica bem diferente de peças com discurso político marcante ou mesmo da exuberância dos musicais que se destacaram na curadoria do Festival em 2024.
“Eu acho que este espetáculo é um sinal de seu tempo. Neste momento, há uma abertura para a sensibilidade, para o humano e para a poesia cênica. Mas eu acho que também é o momento de todos os discursos. Como dizia Cacilda Becker: ‘Todos os teatros são meus teatros’. Eu acho que o Festival tem essa beleza de promover este grande encontro”, disse.
André explica que por trazer na sua base a dualidade das vidas expressas no I-Ching, a peça tem em sua dramaturgia final a experiência do espectador. “O I Ching tem uma visão do mundo que é oriental e integradora. E o espetáculo integra todos os elementos de forma muito equilibrada. Então, eu acho que tem uma coisa que é a base do I-Ching, de ter um protagonismo. Tudo tem uma força e um equilíbrio”, disse.
Melo de volta ao Festival
Para criar este poema cênico, Mutações foi construída junto aos atores Alex Bertelli, Andreia Nhur e o grande ator paranaense Luís Melo, que durante a entrevista lembrou da emoção de voltou a atuar em “casa” e outras questões que tornam esta peça especial para ele.
Esse espetáculo foi um desafio. O meu primeiro depois da pandemia. Foi uma experiência incrível. A primeira em que temos que lidar com as sequelas da pandemia. E uma delas era a memória, uma série de elementos. É uma dramaturgia completamente diferente da que eu costumo trabalhar. E há a questão do etarismo; infelizmente pouco se escreve para os atores mais velhos e nessa peça eu posso contribuir com uma certa relação entre mestre e aprendiz, pois o público é mais jovem. Sem falar da emoção de voltar ao Guairinha, que é a minha base no teatro”, disse Melo.